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Ansiedade performática: a doença do tráfego pago
BoitãoNews - Edição #006

Se você não performa, você não existe.
É isso que o jogo grita o tempo todo.
Mesmo quando ninguém fala em voz alta.
Scrolla.
Vê o print.
Fatura milhas em segundos — e você, travado no mesmo criativo há dois dias.
Desiste de postar porque acha que ninguém vai engajar.
Finge que tá tudo bem, mas por dentro tem um julgamento invisível corroendo a sua paz.
Bem-vindo ao clube.
O nome disso não é só "cansaço".
Não é “fase ruim”.
Não é falta de foco.
É ansiedade performática.
E ela é a doença silenciosa do marketing digital.

O algoritmo virou religião
Você já reparou que a gente vive como se tivesse que estar sempre no topo da aba “tendências”?
Todo mundo disputando atenção.
Todo conteúdo medido por cliques, curtidas, conversão.
A régua virou o resultado.
O resultado virou identidade.
E a identidade virou um avatar que não pode falhar.
Porque se você falha, você vira invisível.
E se você some… ninguém vai sentir falta.
É isso que a ansiedade performática te faz acreditar.
E a ciência endossa isso.
Estudos da psicóloga social Melissa G. Hunt (Universidade da Pensilvânia) mostram que o uso intensivo de redes sociais aumenta os níveis de ansiedade e depressão — especialmente quando há exposição constante a marcos de sucesso alheio.
O nome técnico? Comparação social ascendente.
O efeito? Uma percepção distorcida da própria trajetória.

Os sintomas que ninguém posta no feed
Você já sentiu alguma dessas?
Culpa por descansar
Inveja disfarçada de “inspiração”
Medo de lançar algo que não converta
Bloqueio criativo porque tudo parece insuficiente
Uma voz que repete: “tem gente fazendo melhor que você… e mais rápido”
Tudo isso não é fraqueza pessoal.
É uma resposta natural a um ambiente onde tudo precisa render, impactar, converter — o tempo todo.
O desejo de status é um jogo infinito que não pode ser vencido. Só abandonado.
Eu já fui (e às vezes ainda sou) esse cara
Já me sabotei por achar que só posso publicar algo se estiver brilhante.
Já deixei de escrever por medo de não bater o texto anterior.
Já escondi um projeto inteiro porque não achei que seria “digno de atenção”.
E sabe o que acontece quando você vive nesse modo?
Você se torna um personagem de alta performance, enquanto sua alma vai ficando nos bastidores.
Não é exagero.
Em 2021, a copywriter e fundadora da Copyhackers, Joanna Wiebe, postou que precisou pausar todas as comunicações da empresa por semanas, após um colapso de saúde mental causado por exaustão criativa e pressão constante para manter a régua alta.

A performance sem alma é um buraco
Você pode escalar, converter, bater 8 dígitos…
e mesmo assim se sentir vazio.
Porque não tem métrica que preencha a falta de propósito.
Não tem print que cure a ausência de sentido.
Não tem VSL que resolva a sua relação consigo mesmo.
O objetivo de criar não é impressionar, é expressar.

E então, o que fazer?
Eu não tô aqui pra te dar 5 passos infalíveis.
Mas te ofereço algumas provocações — e talvez, pequenos caminhos de volta:
1. Crie marcos internos, não só externos
Não é só o faturamento que importa.
Celebre quando você volta a escrever.
Quando consegue descansar sem culpa.
Quando diz "não" para algo que já não cabe mais.
2. Observe seus gatilhos
Perceba o que te dispara. Um print? Um comentário? Um resultado alheio?
Nessas horas, pause. Respire. Não reaja. Só observe.
Consciência é o primeiro passo pra desarmar a bomba.
A autoconsciência é a base de toda coragem criativa.
3. Desobedeça o algoritmo por um dia
Escreva sem pensar em SEO.
Poste sem pensar em engajamento.
Crie algo que talvez ninguém veja — mas que te represente.
4. Reconecte com sua intenção original
Por que você começou?
Volta lá. Escava isso. Tem algo ali que ainda pulsa.
Mesmo que esteja soterrado sob métricas, metas e medo.
Você não é seu último lançamento.
Você não é o ROAS da semana passada.
Nem a quantidade de leads na planilha.
Você é quem insiste em continuar — mesmo quando tudo parece medir só o que falta.
Essa newsletter não tem truque.
Não tem viral.
Não tem fórmula secreta pra vender mais.
Ela é só um lembrete.
Que o marketing é um jogo, sim. Mas você é mais do que um jogador.
Você é humano. E sua alma não é um KPI.
Nos vemos em breve.
Com menos pressa.
Com mais presença.
📚 Leitura complementar pra quem quer mergulhar mais fundo:
Se essa edição bateu diferente pra você, aqui estão 3 livros que indico a leitura.
1. “Roube como um artista” — Austin Kleon |
2. “O ego é seu inimigo” — Ryan Holiday |
3. “A guerra da arte” — Steven Pressfield |
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